segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Núcleo da Terra pode ser diferente de tudo o que já se viu


Experiência mostra que óxido de ferro possui propriedades elétricas peculiares sob alta pressão e temperaturas elevadas.

(fonte: Google imagens)

Um dos principais componentes do núcleo da Terra, o óxido de ferro surpreendeu um time de cientistas do Carnegie Institution for Science ao apresentar um comportamento inesperado. Após ser submetido a pressões e temperaturas extremas, o material mudou o grau de condução elétrica.
Quando submetidos a condições similares às apresentadas no interior da Terra, boa parte dos elementos apresenta grandes mudanças em suas propriedades, as quais estão sempre acompanhadas de alterações na estrutura do material.
O que surpreendeu os cientistas foi o fato de o óxido de ferro manter sua estrutura intacta e, ainda assim, apresentar alterações significativas em suas propriedades eletromagnéticas. Essa descoberta pode ajudar a compreender melhor como o interior da Terra dá origem ao campo magnético do planeta.

Como a experiência foi feita
Em laboratório, a equipe do Carnegie Institution for Science submeteu o óxido de ferro a pressões que chegam a 1,4 milhões ATMs (pressão atmosférica da Terra) no nível do mar e a temperaturas de 2.200 ºC, condições similares às encontradas nas camadas mais inferior da Terra.
O que eles descobriram foi que o material pode funcionar tanto como isolante quanto como condutor apenas alterando a pressão e a temperatura. Utilizando simulações de computadores para entender o que estava acontecendo com os elétrons do material, o grupo obteve resultados que mostram um novo tipo de metalização.
Mesmo misturado com magnésio (composição básica do manto terrestre), o óxido de ferro continua a conduzir eletricidade. O fato desse material se comportar como um metal significa que ele liga eletricamente o núcleo da Terra às camadas superiores. Isso afeta bastante a maneira com a qual o campo magnético do planeta é gerado.
Embora muitas outras perguntas tenham surgido com essa descoberta, a ciência está cada vez mais perto de compreender o que realmente acontece nas camadas mais inferiores do nosso planeta

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011


A erupção vulcânica ao sul de El Hierro é submarina e está modificando a paisagem das ilhas
A erupção vulcânica ao sul de El Hierro é submarina e está modificando a paisagem das ilhas. Foto: Guarda Civil Espanhola/Ilhas Canárias/Divulgação
Foto: Guarda Civil Espanhola/Ilhas Canárias/Divulgação
As atividades de um vulcão submerso nos mares das Ilhas Canárias, na Espanha, deram uma nova cara à paisagem marítima da região, que ganhou manchas verdes resultantes das erupções.
O movimento sísmico está atraindo a atenção de cientistas e da mídia, mas afastando visitantes tradicionais e prejudicando a vida de moradores que dependem do turismo e da pesca.

Código Florestal deve ficar para 2012, diz presidente da Câmara


Segundo Marco Maia, texto é polêmico e há pouco tempo para discuti-lo ainda neste ano



O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), disse nesta quarta-feira (7) que será muito difícil votar ainda neste ano o projeto do novo Código Florestal, aprovado pelo Senado nesta terça (6).
Segundo ele, há uma grande quantidade de pontos polêmicos no texto e poucas sessões para debatê-los até o início do recesso parlamentar, no dia 23. O Código Florestal precisa voltar à Câmara porque sofreu alterações no Senado.
Maia lembrou, além disso, que a pauta do plenário da Casa está trancada pela urgência do projeto de lei 1992/07, que cria a Funpresp (Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal).
Na semana que vem, o presidente da Câmara pretende colocar em votação o projeto que desvincula o salário dos parlamentares da remuneração dos servidores da Câmara. Ele explicou que, se houver reajuste, a estimativa de impacto é de R$ 200 milhões por ano.
O Código Florestal define regras para o uso do solo brasileiro e procura estabelecer um equilíbrio entre preservação ambiental e produção agropecuária. O tema e polêmico e opõe ambientalistas, ruralistas e cientistas.

Resistência

O projeto aprovado ontem deve enfrentar novas resistências, pois foi mal recebido pela bancada ruralista da Câmara. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos principais representantes dos produtores na Casa, definiu o texto como “uma homenagem do suicídio do produtor rural”. 
Para ele, as exigências de regularização ambiental, que estão no substitutivo aprovado ontem, custarão muito caro aos produtores rurais.
Caiado disse que o custo não será apenas o do reflorestamento, mas também o da contratação de profissionais que fazem laudo técnico para atestar a regularidade ambiental da propriedade. Além disso, queixou-se do trecho da proposta que impedirá os produtores em situação irregular de conseguir crédito. 
- O texto do Senado é claro. Em dois anos, 5,2 milhões de propriedades terão de estar incluídas no plano de regularização ambiental. Senão, estarão bloqueadas, no final do quinto ano, de qualquer crédito rural.
A senadora Kátia Abreu (PSD-TO), que preside a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), disse que, apesar da resistência de alguns deputados, a maioria dos ruralistas deve votar a favor do projeto.
- Alguns deputados não estão 100% satisfeitos, mas acredito que a maior parte [da bancada ruralista] irá aprovar. 
Em sua opinião, o maior progresso que os produtores rurais vão conseguir é aprovar a reforma do código, que está em debate há 15 anos.
O projeto que reforma Código Florestal poderá ser rejeitado integral ou parcialmente pelos deputados. Ele pode ainda ser acatado totalmente, da forma como foi enviado pelo Senado. 
Depois disso, será enviado para a sanção da presidente Dilma Rousseff. A primeira versão do texto aprovada pela Câmara foi elaborada pelo então deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), atual ministro do Esporte.

Fonte: http://noticias.r7.com/brasil/noticias/codigo-florestal-deve-ficar-para-2012-diz-presidente-da-camara-20111207.html


sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Pesquisador: discussão do Código Florestal está equivocada



Deu no Estadão - Por Karina Ninni:

Pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (IPE- USP), Thiago Fonseca Morello é autor do paper Desmatamento e Desenvolvimento: O Que o Brasil Tem a Aprender com a História dos Países Desenvolvidos? Nele, mostra que os países hoje considerados desenvolvidos iniciaram a recuperação de áreas florestadas entre os séculos 18 e 20. Morello afirma que a discussão sobre o Código Florestal brasileiro está equivocada porque não há dicotomia entre desenvolvimento e conservação. Ele falou ao Estado. 

1- O que é transição florestal e como esse conceito pode jogar uma luz sobre as discussões acerca do aparente dilema entre desenvolvimento e conservação de recursos? 

Transição Florestal é um conceito da geografia e diz respeito ao aumento de "agregados florestais", ou seja, de áreas de floresta, genericamente falando. Embora seja um conceito que nos serve de parâmetro para entender a recuperação de áreas de floresta no mundo, tem suas limitações, pois os agregados florestais não representam a biodiversidade de uma região, ou país. Ou seja: o conceito permite saber se as áreas de floresta em determinado local aumentaram ou diminuíram, mas não se a cobertura vegetal recuperada tem a mesma riqueza ou biodiversidade daquela que se perdeu. 

2 - O que se pode deduzir analisando dados sobre a transição florestal em países desenvolvidos? 

As florestas sempre foram fruto da interação com o homem. Essa interação pode ser positiva ou negativa, como bem cedo perceberam os países desenvolvidos, porque acabaram usando as florestas intensivamente, sobretudo na época do capitalismo mercantil e na chamada primeira revolução industrial. Um caso emblemático é a Inglaterra, onde a revolução aconteceu em primeiro lugar. No século 15 eles já estavam preocupados com a perda de florestas. Passaram pela chamada Crise da Madeira ainda no século 17, quando os preços subiram muito. A revolução industrial só aconteceu lá porque eles conseguiram dar um salto tecnológico no sentido de se tornarem auto-suficientes no suprimento de matéria-prima, o que incluía a madeira. A indústria do aço dependia do carvão vegetal. Até que desenvolvessem tecnologia suficiente para usar o carvão mineral, passou-se um século. Eles não tinham um modelo eficaz de gestão florestal e, ao mesmo tempo em que buscavam novas tecnologias, começaram a construir um modelo para gerir racionalmente seus recursos florestais. Em praticamente todos os países desenvolvidos houve queda na produção de madeira. A própria Inglaterra importou da Suíça por muito tempo. Os países hoje chamados de desenvolvidos tiveram de lidar muito cedo com a questão florestal. E fizeram isso. 

3 - Quem foram os primeiros? 

A França, que começou seu reflorestamento em 1830. A Escócia, em 1730, e a Grã Bretanha, em meados do século 19, e pelos EUA, em 1920. 

4 - Quer dizer que o discurso de que esses países se desenvolveram à custa do desmatamento não é correto? 

Isso só vale para a chamada primeira revolução industrial - intensiva em uso de recursos - e para o período imediatamente anterior a ela, de capitalismo mercantil. Ou seja: para o período de transição entre o capitalismo mercantil e o industrial. A segunda revolução industrial já estava baseada em ciência e em seu uso prático - a descoberta de novas tecnologias. O Brasil, é bom lembrar, se industrializou em uma fase posterior, em que a tecnologia já era a sustentação da produção industrial. 

5 - Mas, mesmo assim, usamos intensivamente nossos recursos, não? 

Sim, usamos. Porque, apesar de nossa indústria ter sido montada sobre a premissa do uso de modernas tecnologias, no campo e na floresta não aconteceu o mesmo. Isso é uma característica dos países subdesenvolvidos: a tensão entre a produção não intensiva em uso de recursos e aquela que os utiliza em larga escala. 

6 - E como isso influencia discussões como a do Código Florestal, por exemplo? 

Resulta que nós temos uma visão equivocada do que foi a história desses países, no tocante a sua autonomia econômica. Ela não teve necessariamente como condição a supressão das florestas. Quando se fala em desenvolvimento, o que vem na cabeça das pessoas é o que foi feito no século 20. Quando o assunto é agricultura também. Agora, quando se fala em floresta, as pessoas lembram da época medieval. Temos de conectar as duas coisas: desenvolvimento e conservação. Mas, para isso, o referencial tem de ser o mesmo. Portanto, se considerarmos a silvicultura do século 20, ao invés de nos voltarmos para a idade média e o início da revolução industrial, não há dilema entre produção e conservação. É isso que tinha de estar em pauta no Código Florestal. Precisamos otimizar o uso dos recursos. O que temos de resolver no Brasil é a baixa produtividade, tanto da agricultura e da pecuária quanto da silvicultura de espécies nativas. 

7 - Além do uso indiscriminado de madeira e outros recursos, algo mais moveu a transição florestal na Europa? 

Há diferenças de país para país. Na suíça, por exemplo, foram deslizamentos de terra que levaram a adoção de uma política florestal.


Pairar acima dos partidos e por eles ser derrotado - MARIA CRISTINA FERNANDES

Valor Econômico
Inspirado por Marina Silva, já começa a circular nas redes sociais movimento pelo veto da presidente Dilma Rousseff ao Código Florestal que ainda está por ser votado.
Dada a concordância governista com a maior parte do relatório do Senador Jorge Viana (PT-AC), é pouco provável que o movimento seja bem sucedido.
A iminente derrota ambientalista na próxima semana não pode ser dissociada da neutralidade de Marina Silva no segundo turno da eleição presidencial do ano passado.
Não que o apoio de Marina a Dilma ou a José Serra fosse capaz de evitar o que já parece uma derrota certa do ambientalismo no Congresso.
O placar da Câmara (410 votos) que referendou o relatório do agora ministro Aldo Rebelo (PCdoB) já havia deixado claro que é a disposição em retirar amarras à produção agropecuária que domina os ânimos parlamentares.
Está claro que não foram 20 milhões de votos pintados de verde que Marina obteve, mas este patrimônio eleitoral a autorizava a negociar os pontos mais caros ao ambientalismo com maior grau de compromisso dos candidatos em disputa.
Tivesse anunciado apoio a José Serra, Marina Silva disporia de laços com a oposição com os quais poderia costurar um discurso alternativo ao bloco ruralista. Ainda que minoritário no plenário, esse bloco, mesmo derrotado, não amargaria o isolamento a que a votação do Código está para submeter os ambientalistas no Congresso.
O apoio de Marina a Dilma Rousseff tampouco asseguraria vitória aos verdes, mas além de lhes dar melhores condições de negociar a tramitação do projeto, também faria com que a cobrança que hoje se faz à Dilma por um veto extrapolasse as redes sociais e envolvesse um maior compromisso partidário.
Poderia ter evitado, por exemplo, que a primeira relatoria do projeto caísse nas mãos de um Senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC) que governou por oito anos o Estado cujo padrão de ocupação leva a desastres anuais de grandes proporções no período de chuvas.
A neutralidade do segundo turno ajudou a revestir a imagem de Marina da aura de quem paira acima dos partidos e daquela raivosa disputa do segundo turno. Se a decisão beneficiou a imagem da ex-candidata, talvez não se possa afirmar o mesmo da causa ambiental.
Quanto mais se aprofunda a crise mundial mais cresce o apelo para que o Brasil mantenha sua economia a salvo da turbulência com atração de investimentos, fomento à produção e ao consumo.
É, portanto, uma conjuntura desfavorável a que se discuta se a margem dos rios a ser preservada deve ser de 10, 20 ou 30 metros.
É essa rajada contrária aos ambientalistas que os obriga a ampliar seu espectro político de atuação, mas o movimento parece dominado pela ideia de que o Brasil entrou na cadeia de mobilização popular pelas causas justas que ocupa as praças, de Zucotti a Tahir.
Um desses manifestantes globais estendeu uma faixa no Congresso na semana passada com o slogan "Jorge Viana trocou Chico Mendes por Kátia Abreu".
Dercy Teles de Carvalho Cunha é presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, fundado por Chico Mendes. Elegeu-se em 2009 quando a vasilha de 18 litros de castanha chegou a ser vendida a R$ 13 reais e o quilo de látex não conseguia mercado a preço nenhum.
Os filiados do sindicato trocaram o extrativismo pela pecuária. Hoje a reserva Chico Mendes, criada para preservar o modo de produção de seringueiros, castanheiros, quebradeiras de coco, populações ribeirinhas e todos os povos da floresta defendidos pelo líder morto em 1988, tem 10 mil cabeças de gado.
Se os manifestantes de Xapuri fossem hoje reunidos numa praça o recado que se ouviria talvez fosse bem diferente daquele que Marina gostaria de ouvir. E é possível que também fosse diferente daquele que Chico Mendes um dia verbalizou. Uma parte deles se manifestou no ano passado quando o Acre natal da candidata do PV a derrotou.
Dercy somou as multas que o Ibama aplicou a 16 dos seus produtores e chegou à conta de R$ 1, 4 milhão. Ela diz que o texto beneficia os grandes produtores e exige demais da agricultura familiar.
Até Kátia Abreu faria mais rodeios para dizer aquilo que Dercy abre de bate pronto numa conversa por telefone. Reclama que seus filiados (4 mil e poucos na última conta) não podem mais queimar a roça, a exemplo do que faziam os primeiros habitantes do país cinco séculos atrás.
Enquanto Marina acha que fizeram-se concessões demais na anistia aos desmatadores, Dercy reclama que os produtores tenham sido obrigados a recompor áreas de floresta para ficarem quites com o Ibama. E diz que ninguém cumpre a determinação de desmatar apenas 20% das propriedades rurais, tal como é exigido no texto para a região amazônica.
O sindicato de Dercy é um dos 30 signatários da Carta do Acre, que critica a coalizão política que, liderada pelo PT, governa o Acre há 13 anos. O documento a acusa de ter promovido, em nome de Chico Mendes, um capitalismo verde que só beneficia madeireiros.
Até os ambientalistas concordam que o texto que vai à voto na próxima semana no plenário do Senado é melhor para seus interesses do que aquele que saiu da Câmara. Criou, por exemplo, a obrigatoriedade de um cadastro para acompanhar se as propriedades cumprem ou não as exigências do código e restringir o acesso ao crédito daquelas que o infringirem.
Mas o código não é fruto do consenso entre ruralistas e ambientalistas, como pretende Viana. Em relação à legislação atual, quem ganha são os ruralistas.
É bem verdade que a lei hoje em vigor não é cumprida e decretos com anistias vêm sendo renovados por sucessivos governos. Mas sem rechaçar a tese do falso consenso, que sempre colocou as mudanças do país em marcha lenta, não há mobilização na política.
Os ambientalistas devem perder porque não foram souberam mobilizar uma coalizão capaz de reunir num mesmo discurso os barulhentos estudantes das galerias e os muitos brasis de Xapuri. E tão equivocado quanto apostar no código como filho do consenso é acreditar que o veto virá pelo twitter.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A grandeza do voto


No domingo, 11, os paraenses serão protagonistas de um ato inédito no Brasil. Pela primeira vez na história nacional uma unidade federativa decidirá pelo voto a sua configuração territorial. Até agora, a criação ou extinção de Estados foi ato exclusivo do poder central, imposto de cima para baixo; ou produto de uma transação entre as partes.
A constituição de 1988 abriu a possibilidade de essa decisão ser adotada através de plebiscito. Um ano depois da vigência da nova Carta Magna, em 1989, o Estado do Tocantins foi criado sem a necessidade dessa consulta. Goiás não se opôs ao desmembramento de todo o norte do seu território. Pelo contrário: durante os oito anos anteriores integrou uma comissão bipartite que preparou o surgimento do novo Estado. Tocantins nasceu sob o clima do entendimento.
Como o Pará atual não aceitou o fracionamento, a consulta plebiscitária se tornou necessária. Apesar da originalidade da situação, até alguns dias atrás a opinião pública ignorou o fato. Parecia considerá-lo um acontecimento irrelevante, restrito a um Estado distante e secundário na estrutura do poder. Só começou a se aperceber da relevância da questão agora, às vésperas da votação – o que dá uma medida mais real do significado da Amazônia para o Brasil, descontada a propaganda e a fantasia.
Deve-se ressaltar que a maioria dos paraenses também permanece quase tão jejuna nessa pauta quanto um paulista ou um pernambucano. E que pauta: cheia de complexidades e sutilezas.
Os 4,8 milhões de eleitores habilitados a participar do plebiscito não vão escolher um líder local para algum cargo ou decidir sobre uma anomalia particular. A decisão que tomarem mudará a configuração territorial brasileira e provocará efeitos profundos sobre todo país.
A responsabilidade é grave e única, de um tamanho cuja grandeza o eleitor médio não tem a menor idéia. A campanha eleitoral em quase nada o ajudou nessa tarefa, dispersa entre ataques e defesas passionais, como em quase toda eleição.
Hoje, o Pará é o 2º em território do Brasil (com mais de 15% de toda sua extensão) e o 9º em população. Se a maioria dos eleitores concordar em dividi-lo para o surgimento de dois novos Estados, o Pará remanescente passará a ser apenas o 14º em tamanho e o 12º em população. Sua nova configuração poderia situá-lo no rabo da fila da federação brasileira por quase todos os critérios. Já não seria uma fronteira com grande potencial de crescimento: teria que aplicar seu engenho e arte para resolver problemas estruturais, dentre eles um território que perdeu grande parte da floresta amazônica que possuía.
O novo Estado do Tapajós, a oeste, se tornaria o 3º em território do Brasil (abaixo apenas do Amazonas e Mato Grosso) e o 24º em população. Passaria a ser a personificação mais próxima da idealização da fronteira amazônica. Mas ao lado de grandes extensões de floresta nativa há elementos de intensa perturbação desse ideal: enormes minas em expansão, estradas que abrem veias de destruição no meio da mata, grilagem de terras, conflitos rurais, desmatamentos em incontida expansão. Quase todos os problemas do Pará atual com menos instrumentos de resolução. Versão piorada do original.
O possível Estado de Carajás, ao sul, nasceria com o 9º maior território e a 22ª população. Dentro da Amazônia, pode ser comparado a Rondônia, a mais bem sucedida das unidades federativas que se originaram dos antigos territórios federais (os outros são Roraima e Amapá).
O paralelo não é destituído de significação. Estado típico de imigração, Rondônia sofreu tal desmatamento que a principal meta das suas lideranças é retirá-lo da Amazônia e transferi-lo para o Centro-Oeste. Assim ampliariam (de 20% para até 80%) a área de imóveis rurais passível de novas derrubadas de floresta.
Rondônia se parece cada vez mais ao sertão, de onde veio grande parte dos seus atuais habitantes. Carajás também. Seus mais recentes moradores sentem-se mais identificados com a paisagem semelhante à dos seus locais de origem, mas a Amazônia só tem a lamentar – e a perder. Os defensores do atual modelo de ocupação da região, que leva a esses efeitos tão danosos, são os mesmos que lideram as três frentes. Fique tudo como está ou mude a divisão administrativa do espaço geográfico, não será para melhor.
Mas não é só o conteúdo amazônico dessa vasta região, que representa dois terços do território nacional, o que está em causa no plebiscito. É a própria composição da unidade (ou da identidade) nacional, um desafio ainda à espera de uma resposta melhor do que a dada até agora. De um lado, os que tentaram amesquinhar a questão, sugerindo restringir a consulta à população das regiões que pretendem se emancipar (o que seria um jogo de cartas marcadas, com resultado certo: a favor).
De outro, os que interpretaram conforme seus interesses a regra constitucional, segundo a qual a “população diretamente interessada” na questão é toda a população brasileira e não apenas os 4,8 milhões de eleitores paraenses. Argumentaram que o custo da instalação dos dois novos Estados terá que ser rateado entre todos e que os efeitos políticos prejudicarão os demais, sobretudo os Estados mais fortes (cujo peso no parlamento sofrerá nova redução quando, no lugar dos 17 deputados federais e 3 senadores paraenses, se apresentarem 32 deputados e 9 senadores dos três Estados derivados do Pará).
Numa decisão inspirada para os padrões das suas últimas deliberações, o Supremo Tribunal Federal rejeitou essa tese, formulada pelo jurista Dalmo de Abreu Dallari, ligado à esquerda paulista. A “população diretamente interessada” é apenas a do Pará. Além de consagrar uma lógica quase tautológica, o STF fortaleceu – como raras vezes isso ocorre – a debilitada federação brasileira de verdade, ao invés de passar mais verniz na República Unitária que somos, caracterizada pela hipertrofia de poder em Brasília.
Como seria bom se o eleitor se sentasse diante da urna informatizada com a consciência de estar contribuindo para aumentar a democratização do Brasil. Será utopia pretender que o eleitor seja, antes de tudo, um cidadão ativo?
(Texto indicado pelo aluno Raphael Ramos, Turma GAIA  Geografia FAVALE/UEMG)